sexta-feira, 12 de agosto de 2016

HINO A THOTH



Thoth, Senhor e Mestre da Magia!
Da Sabedoria e do Conhecimento!
Que conhece o mais íntimo dos nossos pensamentos
Tudo tem seu tempo e a você, Grande Thoth
Foi dado o poder de controlá-lo

Auxilia-nos a despertar a sabedoria que há em nós
Patrono dos escritores, dos Mestres da Magia, dos sonhadores;
Na Lua contemplamos Sua imagem em nossos sonhos,
Nossos segredos e desejos.

É s o sábio no coração da Enéada,
Aquele que faz lembrar o que havia se esquecido,
Aquele que aconselha o desgarrado,
Aquele que preserva o instante,
Aquele que descreve as horas da noite,
Aquele cujas palavras duram eternamente.

Senhor de todas as ciências,
Escriba dos Grandes Deuses
Faz-nos merecedores de uma posição digna mediante Rá,
Assim como Tu és.

Que nunca venhamos desistir de nossos objetivos,
Apesar dos obstáculos.
Que a nossa vontade seja maior que o desânimo
Que nosso poder não seja apenas um querer!





Palavreado por Soror Zoé#Z::

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Hierarquia e Poder na Tradição


"O Buscador deve aceitar as distinções hierárquicas com humildade e assim, exercitar a virtude do bom viver e do amor fraternal”.

                 HIERARQUIA MÁGICA – Uma sociedade para ser poderosa e útil, necessita possuir força moral bastante para impor-se, dando e exigindo dos seus membros direitos e deveres; e é o respeito zeloso da sua tradição o maior fator para criar essa força moral.

             Sociedade que viola e habitua-se a modificar os seus princípios fundamentais, o direito de outorga, e o dever que exige, degenera-se gradualmente, torna-se decadente e perde a sua razão de ser.
              
            Daí, a necessidade de conservação do seu passado, do interesse em torná-lo conhecido e amado a fim de inculcar o exemplo de veneração pela causa da instituição e, para assegurar os direitos e deveres de cada um, à imprescindibilidade de selecionar, estimular e classificar os mais dedicados associados a quem distingue e se destina funções especiais.

   A Æternitas F.O.M., pois, como instituição que necessita possuir força moral suficiente para poder cumprir a sua missão social e exigir dos seus membros o cumprimento de deveres, tem, por meio do respeito aos seus ritos, conservado a sua tradição e, pelos seus graus, classificado seus associados, ajustando-os a uma hierarquia ora formalística, ora dirigente. Essa hierarquia, porém, não significa a superioridade individual exigindo a subordinação passiva.

  Ela não é mais do que uma classificação, como fonte inspiradora da obediência natural e voluntária de indivíduos e agrupamentos a outros com funções e conhecimentos especiais, para que marchem os negócios sociais sistematizados e com as responsabilidades definidas.

Deste modo há, na Æternitas F.O.M., a hierarquia moral ou litúrgica e a administrativa ou de cargos. A primeira se baseia no sistema dos graus e representa o dever que tem o Buscador de respeitar a situação que outro adquire com a posse de uma distinção conferida e significativa apenas de honras e de responsabilidades, para com o ideal associativo. A segunda, isto é, administrativa ou dos cargos, assegura a unidade, vigilância, execução e regularidade das formas sociais. O Buscador investido de um grau adquire e assume compromissos não só para com a instituição como para com os Irmãos menos graduados.

Obrigado a conhecer os direitos e deveres, a sua responsabilidade aumenta, e o dever de guiar, aconselhar e ensinar os menos graduados, se impõe. E então, para ser ouvido, respeitado e seguido, preciso é que tenha certas prerrogativas, e como prêmio de sua aptidão e esforço, conferem-se-lhes honras e considerações.

A HUMILDADE – Podemos entender a humildade como reconhecimento da existência de uma potência superior a nós, a qual rege nossas vidas. Alguns chamam de Deus, outros de Alá, ou qualquer outro nome que queiram dar. 

Todos os Buscadores são absolutamente iguais dentro da Ordem, sem distinção de prerrogativas profanas, de privilégios que a Sociedade confere. Esta igualdade não fere o princípio hierárquico dentro da Ordem porque os Fraternos postos em evidência o foram pelo voto dos outros Fraternos; todos têm o direito de serem eleitos aos cargos; sempre chega a vez de todos, no rodízio recomendável.

À vista do texto supracitado vamos, também, examinar como complemento do assunto, o direito de dispor de força ou autoridade para deliberar, agir e mandar; isto é ter poder.

PODER – Mais prejudicial que o orgulho é o que o poder inspira. Por poder entendemos aqui todo o domínio que um homem tem sobre outro, quer esse domínio seja extenso ou limitado.

O poder exerce uma fortíssima influência sobre aquele que o tem.  É preciso que uma cabeça seja bem forte para não ser perturbada por ele. Dentro de cada homem e cada mulher dormita um tirano que só espera para despertar uma ocasião propícia. Ora, o tirano é o pior inimigo da autoridade, porque nos dá dela uma intolerável caricatura. Daí uma multidão de complicações sociais, de irritações e de ódios. Faz uma obra má, todo aquele que diz aos que estão na sua dependência: “faça isto porque é essa a minha vontade, ou melhor, porque é esse o meu desejo”. 

 Em todos nós há qualquer coisa que nos incita a resistir ao poder pessoal, e essa qualquer coisa é muito respeitável. Porque, no fundo, somos iguais, e ninguém há que tenha o direito de exigir a nossa obediência por ele ser quem é, e nós sermos quem somos; neste caso as suas ordens aviltam-nos, e não é permitido que nos deixassem humilhar.

É preciso termos vivido nas escolas, nos escritórios, no exército, termos seguido de perto as relações entre patrões e criados, termos parado um pouco onde quer que a supremacia do homem se exerça sobre o homem, para se formar uma ideia do mal que fazem aqueles que praticam o poder com arrogância. De cada alma livre, fazem uma alma escrava, isto é, uma alma de revoltado. E parece que este efeito funesto, antissocial, se produz com mais certeza quando  quem manda está mais aproximado pela sorte, daquele que obedece. 

O mais implacável dos tiranos é o tirano em ponto pequeno. Um chefe de setor de uma oficina emprega mais ferocidade nos seus processos que o diretor da fábrica, ou o patrão. O cabo é mais duro para os soldados que o sargento e este que o coronel. Em certas casas onde a senhora não tem muito mais educação que a criada, há entre uma e outra as relações de cão e gato. Infeliz daquele que cai, onde quer que seja nas mãos de um subalterno ébrio de autoridade. Pode se adornar de virtudes que não possuem, mas, sua consciência, na hora certa, saberá mostrar que são vazios e nocivos.

Esquece-se que o primeiro dever de quem quer que exerça o poder, é a humildade. A soberba não é a autoridade.  Nós não somos a lei. A lei está acima de todas as cabeças. O que fazemos é interpretá-las, mas para fazer valer aos olhos dos outros, é preciso que primeiramente nos tenhamos submetido a ela. O mando e a obediência na sociedade não passam afinal da mesma virtude: a sujeição voluntária. A maior parte das vezes não somos obedecidos, porque não obedecemos primeiro.

O segredo do ascendente moral pertence aos que mandam com simplicidade, adoçando pelo espírito a dureza do fato. O seu poder não está na fortuna, nem na função, nem no título, nem nas faixas ou medalhas, mas unicamente nele mesmo. O que confere a um homem o direito de pedir a outro homem o sacrifício do seu tempo, de seu dinheiro, das suas paixões, e até da sua vida, é que não só ele mesmo está resolvido a esses sacrifícios, mas que já se antecipou a fazê-los interiormente.

Em todos os domínios da atividade militar e humana, há chefes que lideram, inspiram, amparam, encantam, arrebatam e entusiasmam seus comandados; debaixo de sua direção as tropas fazem prodígios. Com eles, sentimo-nos capazes de todos os esforços, prontos a entrar em combate com entusiasmo. Há, também, déspotas, arbitrários, que são detestados.

A única distinção necessária é a que consiste em uma pessoa querer ser melhor. O homem que se esforça por vir a ser melhor torna-se mais humilde, mais abordável, mais familiar.  Mas, a hierarquia nada perde com isso, e ele recolhe tanto mais respeito quanto menos orgulho semeou.

O Buscador vale pela sua personalidade, seu comportamento, sua filosofia, sua disposição de “servir” seu Fraterno. Nem a posição social, nem o dinheiro, nem a cultura o destacarão dos demais. A tendência dos mais humildes será a de lutarem para alcançar os portadores de atributos e virtudes excepcionais, e jamais haverá a exigência de um nivelamento por baixo, ou seja, que o virtuoso abra mão de suas qualidades para igualar-se ao menos dotado.

Como se cumpririam melhor os deveres de cidadão, se o mais humilde e o mais altamente colocado aproximassem mãos e corações, permitindo que se entendam, estimem e amem. Eis o verdadeiro cimento que a Æternitas F.O.M. adotou, como um símbolo de amor fraternal que liga todos os Fraternos numa única e comum Fraternidade.

sexta-feira, 1 de abril de 2016


Sopa do Mortos - Uma Homenagem aos Nossos Ancestrais



No dia 30 de abril vamos preparar nossa tradicional Sopa dos Mortos, um momento de lembrarmos e homenagearmos nossos familiares e amigos que já morreram.

Cada um deve levar uma raiz (batata, aipim, cebola, cenoura, alho,etc) que seja significativa em sua história de vida, ou que lembre algum ente querido, essa raiz simboliza nossos ancestrais.

A Sopa será preparada por todos nós, e durante seu preparo teremos um Sarau, onde faremos uma homenagem aos nossos antepassados.

Zoé#Z::

sábado, 20 de fevereiro de 2016



GRATIDÃO

Significado: s.f. Característica ou particularidade de quem é grato.
Ação de reconhecer ou prestar reconhecimento (a alguém) por uma ação e/ou benefício recebido; agradecimento: recebeu provas de gratidão.
(Etm. do latim: gratitudo.inis)

Entre o Solstício de Verão e o Equinócio de Outono, os povos antigos festejavam a primeira colheita do ano, que começa no Solstício de Inverno. Eles festejavam a colheita dos primeiros grãos da Roda do Ano, agradecendo aos deuses pelo alimento, pela fartura concedida... Eles acreditavam que através dos rituais dedicados aos Deuses a Roda do Ano seguiria girando, por isso era tão importante um ritual de agradecimento da fartura, pois dessa forma eles asseguravam que a próxima colheita também seria farta.

Buscamos uma interação com os Deuses e com diversas energias, por isso também é importante mantermos esse espírito de gratidão. Apesar de não temos um contato direto com a terra através da agricultura devemos agradecer o alimento que temos na mesa, a saúde que possuímos, nosso lar. Atualmente podemos dizer que  plantamos quando estamos trabalhando, nos relacionando com outras pessoas, estudando, nos exercitando ou começando um novo empreendimento. Como estamos em época de colheita, mostramos nossa gratidão também por nossa evolução espiritual, nossa saúde, uma nova amizade e sucesso profissional.

Não devemos agradecer apenas os momentos bons que vivenciamos neste ciclo, mas também por cada momento difícil e doloroso. Nos momento difíceis é que temos a oportunidade de quebrarmos alguns paradigmas e usarmos mais da nossa criatividade, força e garra para crescermos e evoluirmos cada vez mais.

"Nas nossas vidas diárias, devemos ver que não é a felicidade que nos faz agradecidos, mas a gratidão é que nos faz felizes." Albert Clarke


Zoé#Z

terça-feira, 26 de janeiro de 2016





LIBERDADE




No dicionário liberdade, um substantivo feminino que significa entre muitas outras coisas, sf (lat libertate) 1 Estado de pessoa livre e isenta de restrição externa ou coação física ou moral. 2 Poder de exercer livremente a sua vontade. (Michaelis)

Para um magista a Liberdade é extremamente importante, ela é a base para seu trabalho mágico, sem liberdade não é possível praticar suas atividades mágicas e buscar a realização da Grande Obra. Atualmente vivemos em um tempo onde as pessoas dizem não ter tempo, não ter local, não ter um momento para realizar seus feitos mágicos;vivemos em um tempo onde pessoas afirmam todos os dias não serem livres, nós falamos o tempo todo “eu não posso, não tenho tempo...”.

Gostaria de propor para que todos nós como magitas, possamos refletir no que nos restringe, no que tira nossa liberdade, são os outros ou sou eu? Será que realmente é a falta de tempo, de local ou será que não faço porque não posso fazer onde e quando EU quero? Por mais dificuldade que tenhamos de expressar nossa arte, existem pequenos momentos em que podemos encontrar liberdade para praticarmos: no silêncio da noite quando todos dormem, ou pela manhã antes que os outros moradores da casa acordem, no banheiro durante o banho, em uma mentalização... Às vezes é necessário adaptar alguns rituais para que possamos executá-los, claro que essas adaptações devem ser feitas com muito zelo para não modificar o ritual em si.

Existe ainda a falta de interesse, de prioridade. Sim falta de interesse, quando deixamos de fazer um exercício mágico para ver televisão, ficar no celular, jogar videogame, ir para uma festa... nesses momentos fica óbvio que nos entregamos à preguiça e falamos “depois eu faço”. O que nos falta é refletir que quando fazemos isso nós estamos restringindo nossa evolução, estamos tirando o tempo, aquele tempo precioso para realizar o ritual que tanto queremos, para estudar, para ler aquele texto que o Mestre pediu já faz um mês. 

Em um dia temos 23 horas e 56 minutos (para ser precisa) será que não somos capazes de reservar 1 minuto para alimentar nosso canário? Para nutrir nossa fé? Em muitas religiões as pessoas se reúnem em um templo uma, duas, três vezes por semana para nutrir sua fé. Na nossa, precisamos apenas olhar para dentro de nós mesmos todos os dias, por um momento. A nossa jornada espiritual é individual e se você não caminhar não vai sair do lugar.

Vamos acordar, sair do comodismo e evoluir. VAMOS SER LIVRES!!!



Zoé#Z

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Vida Cotidiana Viking




Viking é um termo habitualmente usado para se referir aos exploradores, guerreiros, comerciantes e piratas nórdicos (escandinavos) que invadiram, exploraram e colonizaram grandes áreas da Europa e das ilhas do Atlântico Norte a partir do final do século VIII até ao século XI.

Esses vikings usavam seus famosos navios dragão para viajar do extremo oriente, como Constantinopla e o rio Volga, na Rússia, até o extremo ocidente, como a Islândia, Groenlândia e Terra Nova, e até o sul de al-Andalus.Este período de expansão viking - conhecidos como a "era viking" - constitui uma parte importante da história medieval da Escandinávia, Grã-Bretanha, Irlanda e do resto da Europa em geral.


As concepções populares dos vikings geralmente diferem do complexo quadro que emerge da arqueologia e das fontes escritas. A imagem romantizada dos vikings como bons selvagens germânicos começaram a fincar suas raízes no século XVIII e isso evoluiu e tornou-se amplamente propagado durante a revitalização viking do século XIX. A fama dos vikings de brutos e violentos ou intrépidos aventureiros devem muito ao mito viking moderno que tomou forma no início do século XX. As atuais representações populares são tipicamente muito clichês, apresentando os vikings como caricaturas. Eles também fundaram povoados e fizeram comércio pacificamente. A imagem histórica dos vikings mudou um pouco ao longo dos tempos, e hoje já admite-se que eles tiveram uma enorme contribuição na tecnologia marítima e na construção de cidades.

Fazendas

A vida em uma fazenda durante a “Era Viking” necessitava de muito trabalho duro. A maioria das fazendas vikings produzia culturas e animais suficientes para sustentar todos os que viviam na fazenda, sejam humanos ou animais. A maioria dos vikings eram agricultores, mesmo que parte do tempo realizassem trocas com pescado. As fazendas eram geralmente pequenas, a não ser que o proprietário fosse rico. Enquanto algumas eram isoladas, outras fazendas eram agrupadas em pequenas aldeias agrícolas.

Como os invernos eram graves nas terras escandinavas, o gado era mantido dentro de casa durante o inverno. Isto significava que os agricultores tinham que crescer feno suficiente para manter seu gado vivo durante esse tempo.

Além de feno, os agricultores aumentavam a produção de cevada, centeio e aveia. As mulheres preparavam as hortas, e algumas fazendas tinham pomares de maçã. O plantio e a colheita eram realizados de acordo com as estações do ano. Algumas tarefas eram feitas durante o ano todo: reparação das cercas, limpar a sujeira dos estábulos dos animais, coletar madeira ou esterco para as fogueiras, fabricar ou consertar ferramentas, ordenhar vacas e ovelhas e alimentar galinhas e patos. Todos trabalhavam, desde crianças. Os escravos faziam o trabalho mais difícil, o trabalho mais árduo.

Quando os homens partiam para a pesca ou expedições de pilhagem, as mulheres assumiam o controle das fazendas. Por essa razão, as mulheres ocupavam certa quantidade de poder na sociedade viking. As crianças não iam à escola; meninos aprendiam as tarefas dos homens e meninas aprendiam ajudando suas mães. A maioria dos homens retornavam para as safras de inverno e suas fazendas logo após as expedições.

No verão, bovinos e ovinos eram muitas vezes levados a um lugar mais alto para o pasto melhor. Os porcos eram muitas vezes postos em liberdade para vaguear na natureza até a hora de cercá-los e abatê-los para o inverno. Cavalos eram mantidos mais perto da fazenda já que eram usados ​​para o trabalho agrícola e transporte. Vacas leiteiras, ovinos e caprinos também ficavam mais perto das fazendas já que tinham que ser ordenhados diariamente. Os vikings apreciavam queijos, manteiga, leite e soro de leite e os valorizavam até mais do que a carne.

As fazendas e aldeias vikings não ficavam no mesmo lugar. Tanto as fazendas e vilas mudavam cem metros a cada geração para tirar proveito dos solos frescos. Mas isso mudou com a transição para o cristianismo quando os vikings construíram igrejas de pedra e as aldeias permaneceram no mesmo lugar.


Moradia

As paredes das casas eram feitas de placas de terra apoiadas em estruturas de madeira. Não havia janelas, apenas portas e todas bem pequenas (um indicativo da baixa estatura dos vikings no Século X, como aliás, a maioria das populações humanas da época). Por dentro, o piso era de terra batida com buracos para fogueiras e suportes para caldeirões.

Em cômodos grandes, a família se acomodava sobre tablados em camas e bancos recobertos por peles de carneiros e tecidos de lã. Alguns dormitórios eram separados por paredes internas de tábuas. As áreas de trabalho incluíam tear, cozinha e laticínio (os vikings produziam coalhadas, queijos e manteiga). O banheiro era coletivo, com troncos compridos a guisa de assento sanitário e canaletas de  pedra em declive, com portinhola externa, para a retirada dos dejetos.


Escrita

Apesar de não terem livros, os vikings pagãos não eram iletrados. Usavam uma escrita composta de letras chamadas runas. Hoje está na moda atribuir todo tipo de poderes mágicos aos usuários do alfabeto rúnico.

As runas eram uma escrita alfabética simples que podia ser adaptada para vários usos: comemorativos, jurídicos, práticos. A magia foi mais uma aplicação que os vikings lhe deram.

Na Escandinávia se desenvolveram sinais característicos, muito simplificados. A escrita rúnica consiste mais em linhas retas que em linhas curvas, e geralmente se pensa que se desenvolveu para gravar em madeira, dado que as linhas retas são mais fáceis de gravar puma matéria de grão resistente. Rapidamente se usaram as runas em outros materiais: em osso, metal e pedra. Em certa época, o alfabeto rúnico teve 24 letras, mas no inicio da época viking a quantidade tinha sido reduzida a 16. Aquelas letras não bastavam para representar todos os sons das línguas nórdicas, e o soletrar era muito idiossincrásico. Isso faz com que os textos rúnicos vikings sejam difíceis de interpretar.

Mas não era fácil dominar o nórdico antigo: cada letra tinha mais de um significado ou fonema. Como não havia papel, tinham de esculpir poemas e homenagens em pedra, madeira ou osso. Por isso, deixar registros escritos não era comum, o que dificulta muito a vida de historiadores até hoje. Mas os vikings escreviam seus nomes e pequenos bilhetinhos em muitos objetos. Em escavações recentes, foi encontrado um pedido singelo, escrito em um pequeno pedaço de osso: “beije-me”.

Na Islândia, que a língua falada pelos vikings se mantém sem grandes mudanças, a ponto de os islandeses serem capazes de ler os escritos originais das sagas de deuses, heróis e colonizadores do passado. E também é lá – na terra do fogo e do gelo, localizada entre a Europa e a Groenlândia – que as cinzas vulcânicas preservaram algumas moradias e instalações rurais, fornecendo os melhores retratos da vida cotidiana nos anos 900 a 1100, considerada a época de ouro desse povo nórdico.


Vaidosos até a morte

Eles eram metrossexuais, não tinham sobrenomes e conviviam com a poligamia e o divórcio. Entenda como era a vida dos nórdicos livres

Os nórdicos gostavam de ritos e símbolos. No dia a dia de uma cidade viking, era comum ver homens maquiados, mulheres repletas de joias como se fossem princesas e escutar poemas recitados ao ar livre. Na hora do adeus, rolava muito sexo, álcool e mais mortes.


Fashionistas

Na batalha, eles ficavam suados e sujos, mas, no dia a dia, não dispensavam o pente e a maquiagem. E ninguém andava com unha cheia de terra. A “necessaire” de um viking continha uma profusão de pentes, pinças e palitos de dente. Como não havia garfo, só facas, comia-se com os dedos. Mas, logo após as refeições, havia cubas próprias para lavar as mãos, em um ritual de higiene que terminava com a limpeza das unhas e dos dentes. Os pentes, em si, eram um capítulo à parte. Tinham cabos decorados com ornamentos, e tudo leva a crer que eram artigos valorizados, mas amplamente usados por guerreiros a escravos. A maquiagem também era um hábito unissex. Em um relato, o árabe-espanhol At-Tartushi, que visitou Hedeby, uma das mais importantes cidades vikings, no século 10, escreveu que tanto os homens quanto as mulheres pintavam os olhos de preto. Os sábados eram reservados ao banho semanal. Depois de limpos, era tradição arrumar o cabelo com enormes tranças e vestir a melhor roupa. As franjas eram comuns assim como o undercut, o hábito de raspar a parte debaixo do cabelo, próximo à nuca, tendência hoje no mundo todo. Os homens usavam túnicas até os joelhos, com calças, mantos com pregas em um dos ombros e botas feitas de pele de cabra. As mulheres vestiam uma espécie de vestido de lã de corte reto. A nobreza tinha o hábito de manter, em uma argola, objetos de primeira necessidade: chave, uma pequena faca, uma tesoura e uma agulha.


Joias Gigantes

Vikings eram doidos por broches. Foi encontrada uma profusão deles nos túmulos dos chefes, todos em bronze, prata e ouro. Eram usados para segurar mantos e xales – alguns chegavam a pesar 1 kg. Colares e braceletes também faziam parte do traje cotidiano da classe alta e distinguiam ricos e pobres. Até dava para saber a conta bancária pelas joias. Funcionava assim, segundo um relato árabe feito em 920: a mulher cujo marido tinha 10 mil dirhams (a moeda de prata árabe) usava um colar de ouro maciço; e a cada 10 mil dirhams a mais, ganhava um novo colar, e assim por diante. Algumas mulheres tinham vários deles, com berloques com símbolos pagãos, como o martelo de Thor, um dos símbolos mais usados.


Poesia no ar

Guerreiros recitavam poemas em campos de batalha. Na hora do embate, enquanto alguns tremiam, outros improvisavam versos. Criar estrofes e recitá-las era considerado uma habilidade essencial do homem nórdico e estava presente do café da manhã ao jantar. Qualquer situação era motivo para declamar. O historiador islandês medieval Snorri Sturluson, autor do Edda em Prosa, considerada a maior fonte literária da mitologia nórdica, descreveu na Saga de St. Olaf, datada de 1230, um episódio que ilustra bem esse apreço. Logo antes da batalha de Stiklestad, em 1030, o rei Olaf 2°, da Noruega, pediu ao poeta do reino recitar alguns versos. Foram tão épicos que os sobreviventes agradeceram ao poeta por ter levantado o moral da tropa antes da derrota (o rei foi morto). A poesia eddaica tinha enredos envolventes em estrofes curtas, gravadas em pedras e pedaços de madeira. Os nórdicos tinham um incrível poder de concisão.


Ritos Funerários

Os enterros eram ritos pirotécnicos e sanguinolentos, que mobilizavam toda a comunidade. Por acreditar que os mortos precisavam de um meio de transporte para alcançar o além, eles dispunham os corpos em pequenas embarcações de madeira em chamas, ricamente adornadas com móveis, joias, animais decapitados e frutas. Mas a preparação começava bem antes. Uma das mais famosas descrições de um enterro nórdico foi a do chefe dos rus, da região de Volga, atual Rússia. Após dez dias de preparação, o corpo do chefe do clã foi levado ao interior de um barco, onde havia armas, cadeiras e camas. Cavalos, vacas e cães foram sacrificados, esquartejados e colocados junto ao corpo. Depois, a família perguntou aos escravos e servas (muitas vezes, amantes do patrão) quem desejava se unir ao defunto. Uma serva se prontificou. Teve o corpo lavado por outras escravas e foi levada a um festão, cheio de bebidas e sexo. Ela passou por vários homens antes de ser levada à embarcação, onde foi estrangulada enquanto uma mulher com o rosto tapado, conhecida como anjo da morte, enfiava uma adaga nas suas costelas. Seu corpo foi disposto junto ao do chefe, e um parente do morto ateou fogo no barco. Nos enterros mais simples, era costume jogar terra sobre o cadáver, formando um pequeno monte.


Casamento

Os vikings foram os inventores da cerimônia de casamento como conhecemos hoje, com direito a troca de alianças, véus, grinaldas e lua de mel, costumes que influenciaram os cristãos e ganharam o mundo. Na Era Viking, anéis simbolizavam o compromisso entre guerreiros, reis e casais. As festas de casamento eram regadas a hidromel e ocorriam em época de lua nova. Os homens, algumas vezes, eram polígamos, mas a primeira esposa tinha prevalência sobre as demais e usava uma espécie de chaveiro exclusivo na cintura. As esposas se dividiam nos cuidados com os filhos e enteados sem crises de ciúmes. Elas tinham todo o direito de pedir o divórcio e casar com outro. 

 O casamento nada mais era que uma grande festa que as famílias davam e todo Kindred comparecia, a união era tida como judicialmente legal após os noivos serem visto na festa matrimonial por seis pessoas. O vestido da noiva era feito pelas meninas da tribo, o vestido era bordado com muitos enfeites, a noiva usava uma coroa de flores ou de algum metal precioso, muitas jóias de prata e ouro e anéis de ouro eram muito comuns em casamentos de diversas classes. A festa do matrimônio era feita geralmente na casa dos pais da noiva cabendo ao anfitrião da mesma, preparar com antecedência de seis meses as bebidas  do casamento, entre elas o famoso mjoðr (Hidromel), sendo esse o fator que originou o termo “lua de mel” para o momento pós-celebração. Na cerimônia, eram comuns os rituais utilizando espadas ancestrais, com o noivo recitando sua linhagem e a sabedoria do clã. Entre os karls (fazendeiros), era comum a utilização do mjölnir, o martelo deThor, para prover a fertilidade da noiva e esse um item era muito usado em casamentos e funerais devido ao fato de Thor ser o deus guardião de Midgardr, o que o tornava muito famoso talvez até mais que Odin para os antigos. O dia mais requisitado para a celebração era a sexta-feira, o dia de Frigg a esposa de Óðinn, guardiã do lar, protetora da gravidez, maternidade e dos casamentos. 


*  *  *


"Na enorme sala de uma casa de madeira de seis cômodos, os parentes entoavam canções pedindo a proteção das deusas Frigg e Freya. No quarto, uma mulher de joelhos prestes a dar à luz berrava, amparada por duas escravas. Depois de horas em sofrimento, finalmente a cabeça do bebê surgiu. Suada, mas viva (o que já era uma vitória numa época em que muitas mulheres morriam no parto), a mãe recebeu o filho, que nasceu sem deformações. Os bebês com problemas eram abandonados na floresta – o método também era usado para controle da natalidade até a introdução do cristianismo na região, que condenou a prática. Na sala, a notícia foi recebida com festa. A comemoração se estendeu na mesa, com pães e blinis, pequenas panquecas de massa fermentada consumidas com manteiga, peixe, queijo e frutas.

O bebê ficava nove dias sem nome. Em um ritual íntimo, o pai segurava a criança no colo, respingava água em seu corpo e lhe dava um nome, em geral o de um parente morto admirado. Os nórdicos acreditavam que a personalidade de uma pessoa podia ser transferida a outra dessa forma. O menino recebeu o nome de Úlf (lobo na língua local), o mesmo de seu avô paterno, um guerreiro conhecido na Noruega. Era comum dar nome de animais, ou de dois deles juntos, como Úlfbjörn ou “Lobo-urso”, ou de deuses. Não existiam sobrenomes hereditários. Outro hábito da época consistia em acrescentar ao primeiro nome um aposto, indicando o local de nascimento, uma posse (como armas) ou ainda um atributo pessoal, como Sigrid, a Ambiciosa, casada com o rei Eirikr, o Vitorioso.

Úlf mal deixou o berço e já estava envolvido com a ordenha de cabras na pequena fazenda de seu pai, Ragi, um agricultor que pertencia à classe dos homens livres (que se transformavam em guerreiros durante as invasões de verão). A sociedade viking tinha três classes: a dos chefes, que exerciam domínio sobre determinados povoados; a dos fazendeiros, como Ragi, e a dos escravos, que não tinham direito algum. O pai de Úlf podia andar armado e expressar suas visões na Thing, uma espécie de parlamento que reunia representantes de diversas regiões. Ragi era o representante da sua aldeia na assembleia que ocorria no verão e era dedicada a resolver todo tipo de questões, como brigas por terra entre vizinhos. As decisões da Thing não eram transcritas em ata, mas comunicadas à comunidade inteira. Se o povo acatava, valia como lei.

Ragi era dono da própria terra, herdada do pai. Mas havia também grandes latifundiários que loteavam fazendas e as arrendavam. Um deles, Jarlabanke, que viveu na metade do século 11 na hoje cidade sueca de Uppsala, fez questão de deixar registrado seu poderio. Mandou esculpir pedras distribuídas por toda a extensão de sua propriedade. Seis delas ainda existem. Em uma, está escrito: Jarlabanke ergueu essas pedras em memória de si mesmo em vida. Sozinho ele era dono de Täby inteira. Deus ajude a sua alma. Em outra, menciona outros feitos, como a construção de um local para a realização dos encontros da Thing: Jarlabanke ergueu essas pedras em memória de si mesmo em vida, fez desse o local da Thing e sozinho era dono desse distrito inteiro.

Enquanto isso, crianças como Úlf não tinham muito tempo para a infância. Ajudavam as mães no campo e, nas horas vagas, recebiam lições para se defender de inimigos e de animais selvagens, como ursos."






segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Loki e o construtor do muro

Durante muitos anos, os deuses viveram junto com os mortais até que, um dia, Odin, o maior dos deuses, teve a idéia de construir Asgard, a sua morada celestial. Era preciso que os deuses tivessem um local só para si, resguardado dos ataques dos seus terríveis inimigos, os Gigantes. Nem bem, porém, haviam terminado de construir a cidade, depararam-se todos com um grande problema: é que, na pressa, esqueceram de construir também uma sólida muralha para se proteger de um eventual ataque de seus pérfidos inimigos. Odin e Loki estavam conversando sobre o assunto, tendo ao lado outros deuses, como Tyr e Heimdall, quando, de repente, viram passar perto um
cavaleiro.

- Uma bela construção a que fizeram...! - disse ele, admirando a arquitetura da divina cidade. - Mas, onde está o muro que deveria protegê-lo?

Os deuses, constrangidos, foram obrigados a confessar que haviam esquecido desta parte.

- Ora, mas isto não é problema! - disse o forasteiro. - Sou o mais hábil construtor do mundo e posso erguer um belo e fortificado muro, se assim desejarem.

Um sorriso de satisfação iluminou a barba ruiva de Odin. Loki, também satisfeito, acenou para o homem e lhe disse: 
 E quanto tempo levará para terminá-lo?

- Em um ano e meio estará perfeito e acabado.

- Muito bem, pode começá-lo imediatamente! - disse Loki, aplaudindo o construtor.

- Esperem! - bradou Odin, interrompendo tudo. - O senhor disse que é o melhor construtor de todo o mundo, não é?

- Sim, honro-me de sê-lo!

- E, o que pede para realizar a sua tarefa? - quis saber o deus supremo, já imaginando que o hábil construtor não pediria pouco.

- Quero a mão da bela Idun em casamento - disse o outro, confirmando as mais negras previsões do maior dos deuses.

Idun era a deusa da juventude e cuidava do pomar onde brotavam as maçãs a juventude, graças às quais os deuses permaneciam sempre jovens e saudáveis.2

- Ora, desapareça daqui! - disse Tyr, o mais valente dos deuses, brandindo o seu único punho para o atrevido.

Heimdall, o guardião da ponte Bifrost, que conduzia a Asgard, como não podia falar, protestou tocando sua cometa tão alto no ouvido do estrangeiro, que construtor sofreu um sobressalto e precisou de alguns minutos para recuperar inteiramente a audição. Quanto aos demais deuses, já iam todos dando as costas, incluindo Odin, quando ouviram Loki dizer ao atrevido forasteiro:

- Muito bem, se puder construir em seis meses, o negócio está fechado! Todos os rostos voltaram-se, alarmados, para o imprevidente deus.

- Imporemos apenas a condição de que realize sozinho a sua tarefa e no espaço de um único inverno - disse ainda Loki, sem se importar com as censuras que faiscavam no
olhar de seus colegas. Para estes, entretanto, disse à boca pequena: - Não se preocupem: em seis meses, ele não terá construído nem a metade do muro, o que o obrigará a nos entregá-lo de graça!

- Trato feito! - disse o construtor, que pareceu muito satisfeito com a proposta. No mesmo instante, desceu de seu cavalo Svadilfair e meteu mãos à obra. Acoplando um trenó à cauda do cavalo, ele começou a empilhar e a arrastar enormes pedregulhos pela neve com tanta vontade e determinação, que todos os deuses empalideceram, menos Loki, que olhava para o homem com um sorriso irônico.

- Não se aflija, bela Idun! - disse ele à infeliz deusa, que vertia pelos olhos pequeninas lágrimas douradas. - São fanfarronices do primeiro dia; amanhã, ele á estará exausto e jamais conseguirá terminar o muro dentro do prazo estipulado!

Mas, no segundo dia, o ritmo não diminuiu; na verdade, aumentou e, ao fim do primeiro mês, o estrangeiro já havia construído um bom pedaço, grande o bastante para deixar em pé os cabelos de Odin.

- Loki, seu idiota...! - disse ele, chamando o responsável pelo iminente desastre. - Se a coisa for neste passo, antes mesmo dos seis meses, ele terá concluído o maldito muro e perderemos Idun e as maçãs da juventude! Não lhe passou pela cabeça, cretino, que este construtor pode ser um gigante disfarçado a tramar a nossa destruição? - indagou Odin a Loki, que cocava a cabeça, com um ar culpado.

Idun, por sua vez, observava noite e dia, com desolação, a movimentação do construtor e cada pedra que ele depositava a mais sobre o muro, era um golpe cavo que soava em seu peito. Seus olhos estavam sempre postos sobre as costas suadas do infatigável construtor e de seu portentoso cavalo que arrastava no trenó, sem um minuto de descanso, os grandes pedregulhos.

O tempo passou e faltavam agora somente cinco dias para a chegada do verão e um pequeno trecho para que o muro estivesse concluído.

Odin fez um sinal para que Heimdall fizesse soar a sua trompa, convocando os deuses para uma reunião de emergência.

- E agora, seu tratante? - disse Odin, tão logo avistou Loki adentrar o salão. - Já que foi esperto o bastante para nos meter nesta enrascada, trate de arrumar um jeito de nos tirar dela, caso contrário, você irá para o sombrio Niflheim, onde sofrerá torturas tão cruéis que nem mesmo sua filha Hei o reconhecerá!

- Verei o que posso fazer, poderoso Odin - disse Loki, o qual, se era imprevidente a ponto de se meter a todo instante em enrascadas, não era menos hábil em se safar destas mesmas situações.

Loki internou-se numa grande floresta e, naquela mesma noite, enquanto o construtor trabalhava com a ajuda de seu cavalo, ele retornou de lá transformado numa belíssima égua branca. Postando-se diante do cavalo do construtor, a égua começou a relinchar melodiosamente (tanto quanto um eqüino possa ter alguma melodia), o que fez com que Svadilfair arrebentasse, afinal, os freios que o mantinham preso ao trenó e seguisse a égua floresta adentro.

- Ei, espere, aonde vai? - gritou o construtor, espantado.

O cavalo, entretanto, lançara-se numa corrida tão desenfreada que, por mais que seu dono tentasse alcançá-lo, não pôde fazê-lo. Depois de descansar um pouco e refletir, porém, o construtor farejou naquilo o dedo de Loki.

- É claro! - exclamou furioso. - Tão certo quanto sou um gigante disfarçado de construtor, esta égua não passa do maldito Loki disfarçado!

O gigante, então, vendo que não conseguiria terminar o muro sem o auxílio de seu prodigioso cavalo, resolveu reassumir a sua forma natural para tentar completar a tarefa.

Odin, contudo, que a tudo assistia de seu trono, exclamou tomado pela ira: 

- Tal como eu imaginava: o tal construtor não passa, na verdade, de um maldito gigante!... Ótimo, pois com isto fico também desobrigado de meu juramento! - Odin suspendeu no ar a mão que alimentava seus dois lobos, Geri e Freki, e ordenou, imediatamente, que um servidor fosse chamar seu filho Thor.

- Thor, preciso que, mais uma vez, faça uso de seu martelo Miollnir para derrotar este gigante impostor! - disse Odin, depositando todas as esperanças em seu valente filho.

Thor não esperou segunda ordem: empunhando seu martelo e afivelando bem à cintura o seu cinto de força, foi até o gigante, que empilhava, freneticamente, imensos pedregulhos no afã de terminar logo a sua tarefa. O rio de suor, que lhe escorria dos membros, fizera com que a neve ao seu redor tivesse derretido toda.

- Ora, vejam...! - disse Thor, ao se aproximar dele. - O pequeno construtor virou, então, de uma hora para a outra, um gigante atarefado?

- Fique longe de mim! - disse o outro, carregando em desespero a última pedra que faltava para completar o muro.

Porém, antes que tivesse tempo de colocá-la sobre o último vão do muro, Thor arremessou seu martelo com tal força e velocidade, que a cabeça do gigante se esmigalhou inteira.

- Aí está, patife, o seu pagamento! - disse o deus, recolhendo Miollnir. O gigante teve, logo em seguida, o restante de seu corpo jogado nos gelos eternos de Niflheim.

- E então, tudo correu bem? - disse Odin ao filho, tendo ao lado Idun.

- Já deve estar construindo seus muros na terrível morada de Hei! - disse Thor, enquanto retirava sua pesada luva de ferro.

Todos os deuses regozijaram-se com uma grande festa, aliviados que estavam pela derrota do gigante. Entretanto, em meio a ela, alguém perguntou:

- E Loki? Que fim levou o espertalhão?

De fato, Loki havia desaparecido de Asgard desde o instante em que entrara na floresta com o garanhão do gigante. Durante muito tempo, ninguém ouviu falar dele até que, um belo dia, ressurgiu, trazendo um belíssimo e prodigioso cavalo negro de oito patas.

- Ora, viva! Finalmente, reapareceu! - exclamou Odin, que, no entanto, parecia mais interessado no cavalo do que no deus desaparecido.

- Apresento a vocês Sleipnir, o cavalo mais veloz do universo! - disse Loki, todo sorridente.

Loki, por mais incrível que possa parecer, tornara-se pai de um cavalo; mas, para quem já havia sido anteriormente pai de um lobo e de uma serpente, não havia nisto nada de surpreendente. Entretanto, percebendo que Odin apaixonara-se, perdidamente, pelo cavalo, tratou logo de lhe dar o animal de presente na esperança de fazer com que esquecesse, rapidamente, de suas trapalhadas.

E foi assim que Odin se tornou dono do cavalo mais veloz do universo. 


Obs.:
2 - Na transposição da mitologia nórdica para a germânica, a deusa da juventude passa a se chamar Freya, em vez de Idun. Por se tratar, entretanto, de uma história específica da mitologia nórdica, optamos pela fidelidade à nomenclatura original. Além disso, já há uma outra Freya entre os nórdicos, com um caráter bastante distinto daquela a qual nos referimos. (N. dos A.)